Entre as
virtudes que mais me impressionavam no eletricitário aposentado Ludgero Luis
Marques, político nato, ser humano de índole reta e de grande coração, era a
forma prática como ele tratava as coisas. Aquilo que dependia dele tinha
solução rápida. Seja pelo emocional generoso, seja pelo raciocínio
privilegiadamente lógico e justo, suas decisões eram quase imediatas. Eu
poderia aqui destacar tantas outras, mas talvez esse Ludgero prático foi quem
derivou outros tantos Ludgeros que o imaginário popular construiu. Mas Lugero
Luis Marques era só um e sua singularidade não teve nada de banal.
Num
período de pelo menos doze anos eu convivi com ele, em contato, se pode dizer, quase
diário. Testemunhei ele ser bom para uma penca de gente. Inclusive para mim,
que tive sua mão estendida em momentos complicados (era um termo que ele adorava). Os
meus próprios conceitos, os quais formei sobre certo e errado em relação à política
e aos políticos, aos entes públicos e à sociedade, posso dizer que tiveram
grande influência deste ser público que tinha opinião sobre tudo. Ludgero lia
muito, ouvia muito. Quando disparava suas convicções era porque já tinha
dissecado todas as faces do fato e da informação.
Ludgero
também me incentivou muito na minha formação profissional. Jornal na rua,
entrevista no ar, sua opinião – nem sempre elogiosa – me ajudou muito para o
indispensável equilíbrio que necessita ter um repórter ou um colunista que
trabalha com informação e também com opinião.
Ludgero e
a política tiveram um caso de amor explícito e permanente. Se elegeu vereador
logo após se aposentar da CEEE, a qual o designou como seu gerente regional, no
final da década de 1980. Para Pelotas, sua terra berço não voltou mais. Por
bastante tempo foi umas das referências da Câmara de Camaquã, a presidindo por
mais de uma oportunidade. Também foi secretário municipal e presidente local da
sua sigla. Pela reconhecida habilidade, foi convidado para coordenar três
campanhas estaduais na região. Na primeira delas, em 1994, ajudou o jornalista
Antônio Britto a se tornar governador. Com o mesmo Britto trocou de partido e
participou da campanha de 2003 pelo PPS. A eleição foi vencida por Germano
Rigotto e o PMDB, que quatro anos depois tinha Ludgero de volta e o colocou
novamente como coordenador regional de campanha.
Ludgero
Luis Marques faleceu neste sábado, sem ter tempo de realizar um dos sonhos que
nutriu por anos: se tornar prefeito de Camaquã. Planejava uma cidade moderna,
construída a partir das produtivas relações que fez ao longo dos anos com os
protagonistas políticos de Porto Alegre e de Brasília. E essa rede era ampla. Mas
Ludgero viveu bem. Com a esposa Ana, com quem teve a filha Marisse, teve um
convívio harmonioso e blindado por décadas. Com Ana, Lugdero viajou pelo Brasil
e conheceu vários países. O casal compartilhou muitas conquistas.
A última diplomação
Ludgero
se despede deste plano de cabeça erguida, após brigar bravamente pela vida, a
qual amava demais. Dos seus 72 anos, dois foram de tratamento, nos quais não
faltaram gestos de dignidade e de força pessoal. Exemplo disso foi dado no dia
em tomou posse para o seu último mandato de vereador, no primeiro dia de 2013. Mesmo
abatido e com a cabeça enfaixada após ser operado, Ludgero optou em receber
pessoalmente o diploma da Justiça Eleitoral. Os poucos metros que separavam a
cadeira em que estava da mesa de autoridades pareceram quilômetros. Com passos
embaralhados, mas com a cabeça erguida e olhar altivo, ele recebeu o diploma após
apertar firme a mão de cada um dos componentes da mesa. O esforço foi
reconhecido por todos que estavam no IFSul, que aplaudiram demoradamente a
coragem.
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Por Alex Soares
Bonita homenagem meu amigo, parabéns!
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