
Chamou atenção a serenidade e a alegria de Yeda. Nada que lembre a aparência pesada que a acompanhou boa parte do ano. As contas zeradas, os investimentos na saúde, na educação, na segurança pública são alguns dos itens apresentados por ela para comprovar a eficiêcia técnica que caracteriza sua gestão, mais do que de qualquer outro governo desde Antônio Britto.
Cabe fazer algumas observações após a entrevista, a qual acompanhei atentamente. Uma delas é que pelo menos metade do programa, conduzido pelo jornalista Lasier Martins, foi usado para falar sobre a questão salarial do funcionalismo. É verdade que a satisfação dos funcionário tem relação direta com os interesses da população. Mas entre nós, salários básicos, aumentos, funções gratificadas, abonos e questões previdenciárias dos empregados estaduais até são revelante, mas está longe de ser a pauta principal da grande massa.
O embate salarial está ai e surgiu tão logo se concluiu o da honestidade. Travestida de sindicatos, a oposição tenta jogar a multidão de servidores contra a "inimiga" e de lambuja, busca arrastar o privado. É um erro. As prioridades do grosso da população são bem mais geréricas. Sobre os ganhos dos servidores, que neste momento dominam as discussões, sejamos francos: eles poderiam ser melhorados sim, mas numa comparação com a grande maioria dos trabalhadores privados, as reivindicações soam um tanto quanto fantasiosas. Um abismo de realidade separa aquilo que os sindicatos pregam e o que a prática recomenda.
O que quero dizer é que erram todos os protagonistas deste embate no que se refere ao real interesse geral. Erra a oposição, ao acreditar que ameaças de greve e gritos de ordem ainda fragilizam governos, os sindicatos que se deixam dominar pela atmosfera partidária e assim se enfraquecem como intituições e a imprensa, ao sobrevalorizar a pauta. Enredado na tarrafa política, o próprio governo se equivoca ao não reagir, separando bem as coisas para opinião pública.
A outra observação diz respeito aos aspectos técnicos desta gestão. Nunca escondi minha admiração pela gestão de Antônio Britto (1994-1998). Ela foi positiva, dinâmica e investidora. Britto sonhou alto como todo o governador. Ele queria ser presidente da República e sua aceitação nacional passaria necessiariamente por um mandato eficaz no Sul. Numa comparação entre Britto e Yeda, entretanto, duas diferenças são gritantes.
A primeira é que por mais fortes que tenham sido as ofensivas contra o então peemedebista, nada se compara ao que passou a primeira mulher a governar o Rio Grande. A segunda é que, ao contrário de Yeda Crusius, Antônio Britto teve uma grande aliada: a bolada das privatizações. E ai talvez esteja o principal mérito do atual gerenciamento do Estado. Uma coisa é administrar com o caixa abarrotado. Outra é fazer os poucos recursos disponíveis se multiplicarem - na cara e na coragem, com imaginação e competência.
E é por isso que cada parede de escola levantada neste estado e cada centímetro de asfalto colocado devem ser valorizados de maneira bem diferente. Por que está longe de ter sido fácil.
(Foto:Itamar Aguiar)