quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

O que interessa mesmo?

Yeda Crusius é pré-candidata à reeleição e não haverá nenhuma ingerência da candidatura nacional do PSDB no RS. Essas são algumas das afirmações da governadora em entrevista no programa Conversas Cruzadas, da TV COM, na noite desta segunda-feira.

Chamou atenção a serenidade e a alegria de Yeda. Nada que lembre a aparência pesada que a acompanhou boa parte do ano. As contas zeradas, os investimentos na saúde, na educação, na segurança pública são alguns dos itens apresentados por ela para comprovar a eficiêcia técnica que caracteriza sua gestão, mais do que de qualquer outro governo desde Antônio Britto.

Cabe fazer algumas observações após a entrevista, a qual acompanhei atentamente. Uma delas é que pelo menos metade do programa, conduzido pelo jornalista Lasier Martins, foi usado para falar sobre a questão salarial do funcionalismo. É verdade que a satisfação dos funcionário tem relação direta com os interesses da população. Mas entre nós, salários básicos, aumentos, funções gratificadas, abonos e questões previdenciárias dos empregados estaduais até são revelante, mas está longe de ser a pauta principal da grande massa.

O embate salarial está ai e surgiu tão logo se concluiu o da honestidade. Travestida de sindicatos, a oposição tenta jogar a multidão de servidores contra a "inimiga" e de lambuja, busca arrastar o privado. É um erro. As prioridades do grosso da população são bem mais geréricas. Sobre os ganhos dos servidores, que neste momento dominam as discussões, sejamos francos: eles poderiam ser melhorados sim, mas numa comparação com a grande maioria dos trabalhadores privados, as reivindicações soam um tanto quanto fantasiosas. Um abismo de realidade separa aquilo que os sindicatos pregam e o que a prática recomenda.

O que quero dizer é que erram todos os protagonistas deste embate no que se refere ao real interesse geral. Erra a oposição, ao acreditar que ameaças de greve e gritos de ordem ainda fragilizam governos, os sindicatos que se deixam dominar pela atmosfera partidária e assim se enfraquecem como intituições e a imprensa, ao sobrevalorizar a pauta. Enredado na tarrafa política, o próprio governo se equivoca ao não reagir, separando bem as coisas para opinião pública.

A outra observação diz respeito aos aspectos técnicos desta gestão. Nunca escondi minha admiração pela gestão de Antônio Britto (1994-1998). Ela foi positiva, dinâmica e investidora. Britto sonhou alto como todo o governador. Ele queria ser presidente da República e sua aceitação nacional passaria necessiariamente por um mandato eficaz no Sul. Numa comparação entre Britto e Yeda, entretanto, duas diferenças são gritantes.

A primeira é que por mais fortes que tenham sido as ofensivas contra o então peemedebista, nada se compara ao que passou a primeira mulher a governar o Rio Grande. A segunda é que, ao contrário de Yeda Crusius, Antônio Britto teve uma grande aliada: a bolada das privatizações. E ai talvez esteja o principal mérito do atual gerenciamento do Estado. Uma coisa é administrar com o caixa abarrotado. Outra é fazer os poucos recursos disponíveis se multiplicarem - na cara e na coragem, com imaginação e competência.

E é por isso que cada parede de escola levantada neste estado e cada centímetro de asfalto colocado devem ser valorizados de maneira bem diferente. Por que está longe de ter sido fácil.
(Foto:Itamar Aguiar)

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