Um grupo de
produtores da região de Camaquã está prestes a amargar um sério prejuízo, que se
confirmado poderá inclusive inviabilizar o negócio de alguns de maneira
irreversível. Segundo relato gravado dos produtores ao programa Conexão Rural,
o caso tem cheiro e jeito de estelionato, tendo como algoz uma empresa
multinacional fornecedora de sementes de arroz. A venda de um produto cujos
resultados ficaram infinitamente abaixo do prometido, por si só, já sinaliza
para uma falha grave. Depois, com medo de uma reação que levasse ao questionamento
dos pagamentos, a fornecedora decidiu não correr risco, se antecipando e cobrando
judicialmente os arrozeiros, gerando além de prejuízos, um indisfarçável constrangimento.
A empresa em
questão é a Rice Tec, gigante americana especializada na produção de arroz
híbrido. Os problemas já começaram no desenvolvimento das lavouras, quando as
plantas não demonstraram o vigor peculiar, semelhante das lavouras de híbridos
dos anos anteriores. “Do nascimento ao
perfilhamento tudo aconteceu fora do esperado, estava tudo estranho”, diz
Celiandro Ulguim, um dos produtores afetados.
Além da marca
usada, em comum entre esses arrozeiros é a semente híbrida adquirida: Titan CL,
lançada em 2015, na 25ª Abertura da Colheita do Arroz, promovida em Tapes. A semente
Titan prometia produtividade média de 12 mil kg por hectare. Nas lavouras que estão
sendo colhidas a realidade é outra: a quebra chega a ser de 70 a 80 sacas por ha
- a metade da produção prometida pela mesma quantidade de área.
Cliente há doze
anos da Rice Tec, da qual possui até cartão fidelidade, o arrozeiro Hermenegildo
Moczulski plantou 500 ha de Titan CL em Arambaré. A semente, com custo médio de
R$ 900,00/ha (a de variedade sai por R$ 200,00), ficou com vencimento para 30
de março a partir da emissão de CPR (Cédula do Produtor Rural). Como a maioria dos colegas, ele semeou a
lavoura entre novembro e dezembro, nas janelas permitidas pela meteorologia.
Além
da decepção pela baixa produtividade do pouco cereal colhido, a outra surpresa negativa
veio no oitavo dia do último março, quando a Rice Tec, através de ação judicial
conseguiu o arresto de 7.726 sacos de arroz pertencente a Gildo, depositados
numa indústria local. “Nunca me neguei a pagar o que devo e jamais negaria a
eles, mas a forma como foi feito isso, violenta até, me causa decepção, indignação,
sabe (...)? Estou desapontado mesmo”, comentou o arrozeiro, cuja propriedade,
funcionários e maquinário já foram cedidos à Rice Tec para fins de experiência –
segundo ele, sem cobrar “um Real”. Na quarta-feira (20), uma carta do Serasa a
ele endereçada notificava sobre o atraso do pagamento da semente.
Ao todo vinte
produtores locais utilizaram as sementes híbridas da Rice Tec de Camaquã e região
na atual safra. Parte deles efetuou o pagamento à empresa antes de colher e
dificilmente conseguirá reaver as perdas de um produto que se apresentou com qualidade
bem abaixo do que fora apresentado ao ser vendido. Além de Gildo tiveram arroz
arrestado pela Justiça a pedido da Rice Tec mais três produtores locais. Somados,
esses confiscos chegam a 8.900 sacos. Situação similar teve o produtor Valter
Strak, de Encruzilhada do Sul, que teve 4.900 sacos de arroz imobilizados da
mesma forma.
“Não tenho
dúvida que eles sentiram que ia dar problema, que íamos questionar a baixa
produção e então decidiram se garantir”, comentou Celiandro que assim como os
demais colegas informou desde o inicio os problemas das plantas aos representantes
da Rice Tec. “Cientes dos problemas, eles (da empresa) só diziam que não era
para nós nos preocuparmos, pois tudo iria se resolver”, relembra Gildo.
O Conexão Rural
fez contato com Daniel Wegner Becker, representante de Desenvolvimento de
Mercado da Rice Tec, na última terça-feira (19). Ao tomar conhecimento da
publicação da matéria, Daniel disse que faria contato com a empresa. Cerca de
dez minutos depois retornou a ligação dizendo que alguém da Rice Tec iria fazer
um contraponto. Ninguém mais ligou.
“NÃO QUEREMOS NADA QUE NÃO SEJA NOSSO”,
DIZ PRODUTOR
Assim como a
editoria desta publicação, os produtores também esperam um retorno da empresa.
Um dos seus advogados pediu para dizer algumas coisas aos produtores até esta
sexta-feira (22), às 14h. Por sua vez, os arrozeiros também estão entrando na
Justiça a fim de fazer prevalecer os seus direitos e reaverem perdas. “Se a
empresa vier e fazer uma proposta justa, vamos negociar sem problemas. Não
queremos nada do que não seja nosso, mas não queremos ser prejudicados como
estamos sendo”, pondera Gildo, que ainda acredita numa composição.
As entrevistas
com os arrozeiros prejudicados irá ao ar neste sábado, no CR, a partir das
7h30min, na Rádio Acústica FM(97,7).
(Alex Soares/Site Conexão Rural)
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