sexta-feira, 22 de abril de 2016

EMPRESA DE HÍBRIDOS CAUSA PREJUÍZO MILIONÁRIO EM PRODUTORES DE CAMAQUÃ E REGIÃO


Gigante Rice Tec pode levar dezena de produtores à falência

Um grupo de produtores da região de Camaquã está prestes a amargar um sério prejuízo, que se confirmado poderá inclusive inviabilizar o negócio de alguns de maneira irreversível. Segundo relato gravado dos produtores ao programa Conexão Rural, o caso tem cheiro e jeito de estelionato, tendo como algoz uma empresa multinacional fornecedora de sementes de arroz. A venda de um produto cujos resultados ficaram infinitamente abaixo do prometido, por si só, já sinaliza para uma falha grave. Depois, com medo de uma reação que levasse ao questionamento dos pagamentos, a fornecedora decidiu não correr risco, se antecipando e cobrando judicialmente os arrozeiros, gerando além de prejuízos, um indisfarçável constrangimento.

A empresa em questão é a Rice Tec, gigante americana especializada na produção de arroz híbrido. Os problemas já começaram no desenvolvimento das lavouras, quando as plantas não demonstraram o vigor peculiar, semelhante das lavouras de híbridos dos anos anteriores.  “Do nascimento ao perfilhamento tudo aconteceu fora do esperado, estava tudo estranho”, diz Celiandro Ulguim, um dos produtores afetados.
Além da marca usada, em comum entre esses arrozeiros é a semente híbrida adquirida: Titan CL, lançada em 2015, na 25ª Abertura da Colheita do Arroz, promovida em Tapes. A semente Titan prometia produtividade média de 12 mil kg por hectare. Nas lavouras que estão sendo colhidas a realidade é outra: a quebra chega a ser de 70 a 80 sacas por ha - a metade da produção prometida pela mesma quantidade de área.

Cliente há doze anos da Rice Tec, da qual possui até cartão fidelidade, o arrozeiro Hermenegildo Moczulski plantou 500 ha de Titan CL em Arambaré. A semente, com custo médio de R$ 900,00/ha (a de variedade sai por R$ 200,00), ficou com vencimento para 30 de março a partir da emissão de CPR (Cédula do Produtor Rural).  Como a maioria dos colegas, ele semeou a lavoura entre novembro e dezembro, nas janelas permitidas pela meteorologia. 

Além da decepção pela baixa produtividade do pouco cereal colhido, a outra surpresa negativa veio no oitavo dia do último março, quando a Rice Tec, através de ação judicial conseguiu o arresto de 7.726 sacos de arroz pertencente a Gildo, depositados numa indústria local. “Nunca me neguei a pagar o que devo e jamais negaria a eles, mas a forma como foi feito isso, violenta até, me causa decepção, indignação, sabe (...)? Estou desapontado mesmo”, comentou o arrozeiro, cuja propriedade, funcionários e maquinário já foram cedidos à Rice Tec para fins de experiência – segundo ele, sem cobrar “um Real”. Na quarta-feira (20), uma carta do Serasa a ele endereçada notificava sobre o atraso do pagamento da semente.   

Ao todo vinte produtores locais utilizaram as sementes híbridas da Rice Tec de Camaquã e região na atual safra. Parte deles efetuou o pagamento à empresa antes de colher e dificilmente conseguirá reaver as perdas de um produto que se apresentou com qualidade bem abaixo do que fora apresentado ao ser vendido. Além de Gildo tiveram arroz arrestado pela Justiça a pedido da Rice Tec mais três produtores locais. Somados, esses confiscos chegam a 8.900 sacos. Situação similar teve o produtor Valter Strak, de Encruzilhada do Sul, que teve 4.900 sacos de arroz imobilizados da mesma forma.
“Não tenho dúvida que eles sentiram que ia dar problema, que íamos questionar a baixa produção e então decidiram se garantir”, comentou Celiandro que assim como os demais colegas informou desde o inicio os problemas das plantas aos representantes da Rice Tec. “Cientes dos problemas, eles (da empresa) só diziam que não era para nós nos preocuparmos, pois tudo iria se resolver”, relembra  Gildo.
O Conexão Rural fez contato com Daniel Wegner Becker, representante de Desenvolvimento de Mercado da Rice Tec, na última terça-feira (19). Ao tomar conhecimento da publicação da matéria, Daniel disse que faria contato com a empresa. Cerca de dez minutos depois retornou a ligação dizendo que alguém da Rice Tec iria fazer um contraponto. Ninguém mais ligou.

“NÃO QUEREMOS NADA QUE NÃO SEJA NOSSO”, DIZ PRODUTOR
Assim como a editoria desta publicação, os produtores também esperam um retorno da empresa. Um dos seus advogados pediu para dizer algumas coisas aos produtores até esta sexta-feira (22), às 14h. Por sua vez, os arrozeiros também estão entrando na Justiça a fim de fazer prevalecer os seus direitos e reaverem perdas. “Se a empresa vier e fazer uma proposta justa, vamos negociar sem problemas. Não queremos nada do que não seja nosso, mas não queremos ser prejudicados como estamos sendo”, pondera Gildo, que ainda acredita numa composição.  

As entrevistas com os arrozeiros prejudicados irá ao ar neste sábado, no CR, a partir das 7h30min, na Rádio Acústica FM(97,7).

(Alex Soares/Site Conexão Rural)



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