segunda-feira, 14 de novembro de 2011

História rasgada



Brizola: luta árdua para erguer uma bandeira, hoje manchada
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O PDT esteve no centro das atenções da mídia nacional, nos últimos dias. Tudo por conta do escândalo de propinagem, denunciado pela Veja da última semana. Alvo principal: o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, que gerencia o PDT desde a morte do fundador Leonel Brizola, em 2004. Resumidamente, de acordo com as apurações, os capatazes de Lupi cobravam comissão para não trancar o pagamento a entidades que prestavam serviços ao governo.

Aos 51 anos, o paulista (radicado carioca) Lupi é a fiel expressão de um PDT que não existe mais. De um PDT, que entre meados da década de 1980 e da de 90, fazia parar famílias em frente à tela para ver os bombásticos pronunciamentos do seu implacável líder. De um PDT que teve a força de eleger o primeiro governador negro da história, aqui no Estado mesmo. De um PDT cuja força no interior tinha um peso enorme em qualquer simulação pré-eleitoral. De um PDT que reinou absoluto em Camaquã e na região, elegendo e reelegendo prefeitos e vereadores por anos a fio, desde a abertura democrática.

O PDT de Carlos Lupi encolheu e virou um partidinho fisiológico como qualquer um desses que o PT alugou para não comprometer sua sequencia de poder. Ninguém se entende nesse PDT pós Brizola. Se de um lado o herdeiro bastardo Lupi mancha com seu estilo truculento e pouco inteligente a imagem do velho líder, de outro seus tresloucados netos fazem uma força descomunal para enterrar mais a sigla. Uma simples sucessão partidária estadual, dia desses, se transformou num fórum público de lamentações constrangedoras. Definitivamente, Brizola não merecia isso.

Lupi, o jornaleiro que um caiu nas graças de Brizola e dele ganhou sua confiança eterna, esqueceu de um detalhe quando se apossou do partido em benefício próprio: ele não é Leonel Brizola. A começar que o gaúcho jamais deixaria se criar uma situação como a que Lupi se meteu. Aliás, nem seria ministro pelas conveniências apresentadas. E nem vamos falar aqui de carisma, o qual em Brizola era fora do comum e natural.

“O PDT pode até ser mais uma vítima da estratégia de aliciamento petista, mas sobretudo, é vítima de si mesmo”


Mas o que mais chama atenção mesmo é que o médio e baixo cleros trabalhista não reagem diante do desmonte promovido por Lupi no seu partido. Ao contrário, o endeusam. Nesta semana, tentaram defender o indefensável. Mesmo com as robustas evidências de que Marcelo Panella, chefe de gabinete de Lupi no Ministério (ele está para Lupi como Lupi estava para Brizola) chefiava o esquema de achaque, muitos trabalhistas buscaram vitimizar o ministro.
A mensagem de vida pública deixada por Brizola, respeitada e seguida por gente que até nada tem a ver com o partido fundado por ele, foi rasgada pelos atuais arrendatários da sigla. O resultado disso é um partido encolhido, que deverá entrar em outro ano eleitoral com chances reais de diminuir ainda mais.
O PDT pode até ser mais uma vítima da estratégia de aliciamento petista, mas antes de tudo é vítima do seu destino.

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