domingo, 21 de novembro de 2010

A história do João

Eu me emocionei quando li. Outros também se comoveram. Para aqueles que não conhecem essa bela história, escrita pelo repórter Diogo Olivier, na Zero Hora do último sábado, posto ela neste espaço. Ela é sensacional.

E observem o placar que o guri cantou para Grêmio x Atlético PR. Na mosca.



Inspiração azul
A paixão de João Victor


São duas histórias lindas. A deste Grêmio que pisa o Olímpico hoje, às 19h30min, para enfrentar o Atlético-PR de olho no G-4, e a do menino João Victor Medeiros, seis anos. Ambos sofreram não faz muito e renasceram logo ali adiante com mais energia do que as arrancadas do Paulão. O Grêmio ressuscitou graças a Renato Portaluppi, ou alguém duvida que ser rebaixado outra vez seria a morte? João deu sinal de vida por amor ao Grêmio quando tudo apontava para a pior das injustiças, que é um pai enterrar o próprio filho.

Depois do relato a seguir, o torcedor gremista verá que não ter Gabriel e Jonas, um lesionado, o outro suspenso, não tem a menor importância. Porque Renato e João Victor estarão lá, firmes. É o que conta. João andava com uma febre recorrente no final da tarde. Ia se prostrando, amolecendo, até ficar bem quietinho. O que, claro, assustou os seus pais. Adriana Goelzer, gerente de cobrança, e Marcus Vinícius, gerente de call center, levaram-no ao médico. Daí até o diálogo mágico foram duas semanas de sofrimento.

Os médicos encomendavam e repetiam exames (Raio X, de sangue) e nada de diagnosticar o mal que afligia João. Os sintomas não se encaixavam em doença alguma. Surgiram manchas rosadas nos pés e mãos. Os olhos ganharam um tom avermelhado preocupante. Para encurtar o sofrimento e entrar de uma vez na parte encantadora da história: levado ao Hospital Moinhos de Vento quando surgiram as manchas, de lá João não saiu mais até o renascimento.

Foram 19 dias de CTI. No pior dos cenários, os pais viram o pequeno gremistão cercado por quatro médicos e oito livros de medicina sobre a mesa, sedado por seis antibióticos diferentes, quatro quilos mais magros e com a capacidade respiratória reduzida a 10%. Os outros 90% de oxigênio chegavam aos pulmões por um tubo acoplado direto na boca. Então aconteceu o diálogo mágico, que fez de João o próprio Grêmio. Para melhorar a parte emocional de uma criança presa a uma cama e vendo gente doente na CTI, os pais resolveram animar o ambiente. Marcus logo pensou no Grêmio. Além do painel com fotos de familiares e de amigos, levou o Hino do Grêmio. Logo na primeira execução, a enfermeira percebeu mudanças na pulsação de João, mesmo sem ele se mexer. Em seguida, o pai perguntou:

– Vai terminar tudo bem e nós vamos ao jogo....

Eis a resposta de João entubado, sedado, meio zonzo, fraco, magrinho, os olhos ainda fechados:

– Quando?

– O quê? – perguntaram os pais, em coro.

– Q-u-a-n-d-o?

Vitória, como a que o Grêmio de Renato precisa obter hoje contra o Atlético-PR para manter vivo o sonho da Libertadores. Os médicos tinham medo de que ele não se recuperasse, apesar da descoberta do diagnóstico: artrite reumatoide juvenil. Em vez de antibióticos, a salvação passava pelos corticoides. João estava fraco após tantos dias entrevado na cama e se alimentando mal. Talvez não houvesse força. Mas o Hino do Grêmio, a ideia de ver o Grêmio de novo, o Grêmio, enfim, o animou. João deve ter pensando que tudo seria muito chato sem Ben 10 e o Grêmio, especialmente o Grêmio, como se pode comprovar no quarto dele em casa, no qual se vê cores e produtos tricolores por todos os lados. João e este Grêmio, de Renato, estiveram à beira da morte. E viveram. Vai ver são imortais. E hoje, João, quanto vai ser?

– Hum....3 a 1 pra nós!

Melhor não duvidar. De Renato, do Grêmio. E de João Victor, a partir de agora um símbolo azul.


(ZH, 21/11/2010)

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