terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Não foi dessa vez

Estive ontem por cerca de três horas no Foro Central de Porto Alegre. Ali, na 2ª Vara do Tribunal, estava sendo julgado o homem indiciado pela Polícia Civil e pelo Ministério Público de ter sido o mentor do assassinato de Renata Alves Neves, morta aos 30 anos, em 27 de janeiro de 2008.

O crime, denominado pela imprensa estadual como “o da Praça Japão”, encerrou com a vida de Renata e golpeou covardemente outras.

Juntos, o pai Francisco, a mãe Lourdes e a mana Fernanda não perderam nenhum detalhe de tudo que era falado na sala de audiência, nas dezoito horas de sessão. Diante de tudo que fora levantado pela policia e endossado pelos promotores, confiavam estar diante dos responsáveis pela transformação de suas rotinas. A maioria dos jurados não entendeu assim.

Entre o juiz, a defesa e os jurados, Jader Cavalheiro permaneceu durante toda a audiência de cabeça baixa. Mexia todo o tempo com as mãos e vez que outra mirava rapidamente para quem falava e para o público.

Se estes dois anos ruíram com as estruturas dos Neves, eles foram também fatais para o auditor do Tribuna de Contas do Estado. Liquidado, Jader aparenta ter pelo menos 15 anos a mais dos que os seus 51 de idade.

Já o criminoso Urso, acusado pela execução, apenas cumpria mais um ritual. Foragido da justiça, ele tem sentenças por latrocínio e assalto. Já o filho, Rafael, não se mostrava tão à vontade com o destino herdado do ascendente.

Não conheço as justificativas apresentadas para inocentar o trio. Porém, não é difícil imaginá-las. Os três advogados usaram a mesma estratégia: negar tudo. Para anular o que haviam dito à polícia e ao MP, os defensores de Urso e Rafael alegaram ter sido forçados a assumir a culpa.

É bom lembrar que boa parte destas confissões foi feita longe da delegacia, depois de os dois já estarem presos. Nelas, a dúvida era: quem tinha puxado o gatilho. Um acusava o outro.

Discutir decisão judicial é sempre complicado. Quando é antecedida pelo respeito aos direitos da defesa de todas as versões, ela se torna mais legítima ainda. Entre respeitar e concordar, no entanto, existe um abismo. Pela convicção demonstrada, os promotores deverão tentar reverter a sentença.

Quando sai do júri, no intervalo entre os depoimentos e os debates, gravei com Tio Chico uma entrevista. Depois, em off, se comprometeu de me ligar e informar o resultado. Mas somente se ele fosse condenatório. Em caso de absolvição, se calaria. Mais uma vez, cumpriu a palavra. Não foi dessa vez que a perda da filha foi cobrada.

(Foto: Ronaldo Bernardi/ZH)

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