quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Um Natal de versos, não de reverso

* Valtencir Kubaszwski Gama

O Brasil precisa construir o seu Natal. Em todos os sentidos. Precisa criar uma sociedade mais justa, fraterna, com igualdade de participação. Mas para isso é preciso que ela exista antes dentro de cada cidadão e cidadã. Mister se faz um vigoroso sopro de educação à cidadania, pois esta tem o papel de acabar com a pusilanimidade, abrir horizontes e colorir arco-íris, fazendo, então, dobrarem todos os sinos ao pulsar do coração de cada um, criando um Natal de versos, não de reverso.

Acredito que o encontro arte e solidariedade seja uma das fontes mais verdadeira de evolução do homem, o que deve resultar em infinitas obras que a cultura pode fazer pelo país, já que este não muda somente pela sua economia, sua política e nem mesmo sua ciência.

Não tenho a consciência de todo tranqüila em relação a força das utopias e bem sei que a poesia não acalma a fome. Também não estou a exercitar a quixotesca arte de dar murro em pontas de faca. Defendo, simplesmente, que é necessário descobrirmos o nosso “verdadeiro eu”, nosso sentido, razão e emoção de viver.

"Defendo que não podemos iludir os necessitados com uma mesa farta apenas na ceia de Natal"

Defendo que é necessário descobrirmos a simplicidade da manjedoura à que estamos inclinados, deixando germinar Aquele que se fez pão e vinho, para que todos tenham vida com fartura e alegria, e assim instalar o presépio no próprio coração, tendo a certeza de que algo misteriosamente novo haverá de nascer em nossas vidas.

Defendo que não podemos iludir os necessitados com uma mesa farta apenas na ceia de Natal; é imperioso que todos possam brindar todos os dias e que nossas crianças tenham com o que brincar. Afinal, criança também tem fome de brinquedo.

O Natal desperta alguns sentimentos que parecem não serem nossos; revelam carências e fazem a máscara da rotina da vida agitada abrir espaço à luz e a sorrisos sem compromisso. E embora o Natal seja de reis magros, damos presentes sem nos dar, recebemos sem acolher, brindamos sem perdoar, abraçamos sem afeto, damos à mercadoria valor que muitas vezes nem reconhecemos nas pessoas. E o Aniversariante passa desapercebido, sem ser lembrado. Damos mais atenção à árvore morta, vestida de palhaço, do que as nossas crianças. A versão brasileira do menino Jesus pode ser vista nos menores de rua: todos com a espada de Herodes sobre a nuca.

Defendo que é preciso mudar o Natal. Trazer o menino Jesus à companhia de Papai Noel, para que ao invés de presentes, tenhamos presença – junto à família, aos amigos, aos sonhos, a comunidade, enfim, à humanidade e a uma vida repleta de realizações.
Feliz Natal!

*Advogado
(valtencir@gamaadvogados.adv.br)

Leg