sexta-feira, 30 de outubro de 2009

O tempo, a morte e os finados

* Por Valtencir Kubaszwski Gama
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O tempo, a tudo e a todos sempre provoca. É mágico e traiçoeiro. Mágico porque anda ao nosso lado sem nos chamar a atenção; traiçoeiro, porque não marca hora nem dá sinal de quando surgirão os primeiros fios de cabelo branco. O tempo é assim porque goza de imortalidade. Nós, ao contrário, somos mortais, e não raramente usamos a mortalidade como desculpa da falta de tempo para gozar uma vida proveitosa.

Pulamos etapas preciosas de nossa vida preocupados (leia-se: ocupar antes do tempo) com a finitude. Desesperamo-nos frente a determinadas situações e perdemos o controle de nossas vidas, e, ainda que esse descontrole seja momentâneo, são de momentos que jamais se repetirão, e que mereciam ser vividos alegremente. O pêndulo do relógio não bate e volta, simplesmente bate e bate e bate... porque o tempo não volta jamais. Ele avança, imune e impune. Avança e nos leva com ele. E por ser eterno, o tempo peca – talvez sem saber - pois nos leva a morte.

O dia de Finados, que se aproxima, nos oferece espaço para reflexão sobre a vida, pois no dia de Finados não festejamos a morte, celebramos, sim, nossa fé na ressurreição e na força da vida. Nos Finados, lembramos e agradecemos a Deus a vida de nossos ascendentes, aqueles que nos antecederam (pais, avós, parentes e amigos). Paramos um minuto. Acendemos uma vela. Proferimos uma oração. Vamos à missa nos cemitérios ou igrejas. Agradecemos a Deus essa cadeia da vida que nos tornou possíveis e viventes, pois não somos filhos do nada, nem começamos em nós mesmos.

Os filhos do nada são sementes de caos, e nós somos sementes do Cosmos, do amor de Deus, transmitido por avós, pais e antepassados, e essa cadeia de gerações nos transmitiu vida e fé. A luz, que nos iluminou através de pais, avós, parentes ou amigos, não se apagou com suas mortes. Acendemos velas para lembrar que essa luz segue nos iluminando, em nossos corações, e que nós veneramos seus exemplos e imitamos sua fé.

As velas recriam o tempo na imagem do fogo e reacendem a criatividade e a concentração, e então descobrimos que a morte não é um fim, mas nossa “páscoa”. O tempo é eterno, mas na eternidade não existe tempo, e é nesse paradoxo que ele usa de seus truques com os vivos, porque na morte a vida não é tirada, mas transformada. Logo, nossa vida é eterna.


* Advogado

2 comentários:

  1. Admiro muito o poeta Valtencir e gostei muito de seu texto, porém peço licança para levantar um questionamento sobre a sua afirmação de que "não raramente usamos a mortalidade como desculpa da falta de tempo para gozar uma vida proveitosa". Na minha modesta opinião, o que acontece é exatamente o contrário, ou seja, nos permitimos deixar de gozar alguns momentos justamente porque esquecemos que somos mortais e achamos que teremos tempo para fazê-lo oportunamente.
    Por outro lado, concordo que pulamos muitas etapas preciosas de nossa vida pela pressa de chegarmos em algum tempo que nem nós mesmos temos noção de quando virá. E nesse caso, talvez, se aplique o benefício da dúvida: será isso uma manifestação da ânsia de aproveitar a vida antes que ela se escoe ou um desdém pela sua finitude?
    Zeni Isquierdo Danelon

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  2. Segundo a Enciclopédia Online Wikpédia, o Dia dos Fiéis Defuntos, Dia dos Mortos ou Dia de Finados é celebrado pela Igreja Católica no dia 2 de Novembro, logo a seguir ao Dia de Todos-os-Santos.

    Desde o século II, os cristãos rezavam pelos falecidos, visitando os túmulos dos mártires para rezar pelos que morreram. No século V, a Igreja dedicava um dia do ano para rezar por todos os mortos, pelos quais ninguém rezava e dos quais ninguém lembrava. Também o abade de Cluny, santo Odilon, em 998 pedia aos monges que orassem pelos mortos. Desde o século XI os Papas Silvestre II (1009), João XVII (1009) e Leão IX (1015) obrigam a comunidade a dedicar um dia aos mortos.

    No século XIII esse dia anual passa a ser comemorado em 2 de novembro, porque 1 de novembro é a Festa de Todos os Santos.

    O Brasil por ser um país predominantemente católico, adotou essa data como feriado nacional segundo as leis n°10.607/02 e n° 662/49.

    Os protestantes e evangélicos não recomendam a oração pelos mortos por que essa doutrina é desprovida de apoio Bíblico. Já os católicos afirmam haver respaldo no Livro de II Macabeus 12,43-46, mas a canonicidade desse livro não é reconhecida pela maioria das religiões cristãs.

    É durante o estado de vida, que o ser humano é convidado a aceitar a salvação pela fé em Cristo Jesus (Gal 2:16; Atos 4:12; I João 5:11-12) e aguardar o dia da gloriosa ressurreição onde Deus chamará os que dormem para devolver-lhes a vida (I Tess 4:16-17, I Cor 15:51-54). Mas não há nada que se possa fazer para ajudar alguém a aceitar essa verdade, depois de descer a sepultura.

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