terça-feira, 3 de novembro de 2009

Sim, ainda nos chocamos

Foto:Ecosul
A contabilização das vítimas do trânsito aos finais de domingo é uma das tarefas mais banais no jornalismo. Nas redações segue-se a liturgia de colher dados do acidente, das vítimas e dos veículos, buscar fotos, ligar para polícia, falar com familiares. Nos feriados e no verão a rotina se altera. Tem-se mais trabalho. Na outra ponta o automático também está ligado. Em se falando de trânsito e seus macabros efeitos, tais divulgações pouco chocam, hoje, leitores, ouvintes, telespectadores e internautas. As mortes causadas no trânsito já não surpreendem mais. Exceto em duas situações: quando envolve alguém do nosso círculo e quando as vítimas fogem do padrão estatístico costumeiro.

Este acidente que ocorreu na madrugada de sábado, na BR-116, em Cristal pertence a essa segunda exceção. As vítimas não foram jovens saídos de festa, não foram também profissionais do volante cansados depois de exaustas horas de trabalho. Dentro do Fiesta que invadiu a pista e foi de encontro a uma carreta viajavam duas crianças – uma de dez, outra de quatro anos - e seus pais – um homem de 28 e uma mulher de 33.

Perdas deste tipo para o trânsito ainda chocam, consternam. E geram perguntas. A mais comum é sobre as circunstâncias que provocaram o acidente. A Polícia Rodoviária Federal desconfia que o motorista do carro dormiu. Se assim foi, cria-se uma situação tão delicada quanto achar culpados para um desastre destes. Mas não há como negar ser no mínimo questionável viajar com crianças na madrugada. Sob cansaço então a combinação pode ser fatal. E pelos indícios, acabou sendo neste caso.

Os pelotenses Cristiano, Raquel e os pequenos Samuel e Sara infelizmente não foram os únicos que se despediram no feriado. Eles integram o balanço das 22 mortes do trânsito entre sexta e ontem. Momentos de bobeira, estradas ruins e mal sinalizadas, negligência, irresponsabilidade dos condutores, falhas mecânicas? As causas são variadas e podem até ser combinadas.

Aliás, some a estes dados, as 18 famílias que choram pelos filhos que desapareceram afogados nos açudes e rios do estado e a proporção da fatalidade dobra. Assim como também cresce a desesperança em ver estancada ou ao menos diminuída a carnificina das estradas, principalmente. Tudo parece já ser sido feito. Campanhas educativas, leis que coíbem o mau uso do veículo, punições rigorosas. Mas nada até aqui parece frear o avanço das perdas nas estradas.

O acidente de Cristal nos oferece também a possibilidade de refletir. É o tipo de fato que pode ter qualquer um como protagonista. Nos deixam lições. Evitar ao máximo se inserir no contexto das situações de risco e assim nos tornar vulneráveis à fábrica de tragédias do trânsito é a principal delas.

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