segunda-feira, 20 de julho de 2009

Nixon: o presidente da conquista da lua

Nixon visita na quarentena pós-missão Michael Collins, Neil Armstrong e Buzz Aldrin
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Em tudo que tenho lido a respeito do início da exploração lunar, que nesta segunda-feira, às 17h17min (Brasília), completa quarenta anos, me chama a atenção a pouca – ou quase nenhuma referência ao nome do presidente do país dono da missão. Eleito um ano antes, o republicano Richard Nixon governava a
América fazia um ano, quando vencera nas urnas Hubert Humphrey (Democrata).


Não era a primeira tentativa de Nixon chegar à Casa Branca. Oito anos antes havia perdido a eleição para John Kenneddy – por parcos 80 mil votos. Aquele 1969 foi, sem dúvida, o ano de Nixon. Claro que os EUA ainda viviam sob o trauma das perdas e do desgaste provocado pela Guerra do Vietnã. Mas nada superava aquele momento grandioso da supremacia americana sobre os adversários soviéticos. Se vivia o auge da Guerra Fria.

Coincidentemente, neste final de semana assisti ao filme Frost/Nixon. A obra é nova. Foi lançada no Brasil no início deste ano e diga-se, deveria ser usada amplamente em aulas de jornalismo. Ali se aprende muito sobre o que um repórter deve ou não fazer antes e durante uma entrevista. O filme recupera os bastidores da célebre entrevista que Richard Nixon concedeu ao apresentador britânico de TV David Frost em 1977 – três anos depois de Nixon renunciar à Presidência por conta do escândalo Watergate.

Frost, ainda na ativa na Inglaterra, era um show-man. Fazia programas populares de auditórios e tinha enormes audiências na Inglaterra e na Austrália, onde seus programas eram transmitidos. Era uma espécie de Faustão, ou para ser menos genérico, um Otávio Mesquita, da TV. O seu esquema era o entretenimento mesmo. Pois Frost conseguiu aquilo que os promotores, que a pesada imprensa americana, que o FBI, que o mundo não conseguira em cinco anos: a confissão de Nixon.

Foram quatro programas gravados. Nixon recebeu pela entrevista 500 mil dólares. Frost tentou vendê-la para as grandes redes americanas de TV, antes. Fracassou. Quase quebrou. No final saiu dos EUA, onde anos antes não havia dado certo, idolatrado.

Foi uma sequência de quatro gravações, que na verdade se transformam em duelos entre o jornalista e o político. Nas três primeiras o experiente Nixon deu de relho, desconsertou e desconcentrou seu interlocutor, usou o espaço com respostas longas e evasivas. No último encontro, no entanto, o jogo virou. Agora preparado, Frost arrancou de Nixon a esperada confissão. Admitira, enfim, que sabia da ação policial de bisbilhotagem na sede do Partido Democrata, na eleição de 1972.

Chama atenção a cena de um diálogo entre ambos, na presença de um assessor do sagaz, mas derrotado Nixon. Nela, o ex-presidente reclama com ares nostálgicos, que ninguém lembrava de seus feitos positivos do governo e que só ouvia Watergate quando se referiam a ele.

A reivindicação até que era relativamente justa. Mas o importante foi sua admissão de culpa. Foi como se no Brasil o ex-presidente Fernando Collor de Mello confessasse sua promíscua e lucrativa associação com Paulo César Farias, ou o atual, Lula, com os mensaleiros.

Nixon morreu em 1994, no ostracismo político absoluto. Assim como Bill Clinton estará sempre para Monica Lewinski, o republicano eleito e reeleito teve e sempre terá seu nome associado à Watergate - nome do prédio onde houve a espionagem e que hoje batiza a maioria dos escândalos que estouram mundo afora. Mas nada pode tirar de Nixon o privilégio de ser o presidente daquele 20 de julho de 1969, quando pela primeira vez o homem pisava num solo extra-terrestre.

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