quarta-feira, 20 de maio de 2009

Uma pausa para refletir

Em toda viagem, as mais longas em especial, é imperativo parar, respirar um pouco e repensar a trajetória, para ai sim retomar o caminho. Ou outro. O importante é chegar - bem e com segurança. O mesmo vale quando se tenta alcançar alguma conclusão, formar opinião definitiva de algo. Mas é muito perigoso sair emitindo posicionamentos quando o tema em questão interessa a muitos lados. Pior ainda quando ele domina a mídia. Mas o homem é um julgador por natureza. Certas ou erradas as sentenças parecem ser obrigatórias. O problema é que nem sempre elas são feitas no tempo certo, com o embasamento adequado. São apressadas e não raro acontece o pior: a injustiça.

O Rio Grande do Sul fervilha. E o calor gerado neste caldeirão de denuncismo se espalha por toda federação. São espaços generosos em telejornais, diários e revistas semanais dando conta da atual crise política gaúcha. E são muitas informações simultâneas, o que consequentemente propicia um turbilhão de teses e de pré-julgamentos. Ah, e existe, claro, muita maldade infiltrada e também muita inocência dissimulada. É necessário, pois, isolar algumas correntes para ai sim poder se olhar de um ângulo mais privilegiado e, acima de tudo isenta. Claro, isso só vale para quem busca a verdade.

As notícias que colocam o atual governo estadual numa rede que parece interminável de problemas merecem ser analisadas assim. Durante esta nova avalanche de fatos, começadas há duas semanas com a matéria da Revista Veja, este blogueiro procurou se limitar a apenas ler, ouvir e ver o que saia na grande imprensa. Concentrando-se no factual, passando ao largo das opiniões de articulistas ou mesmo de políticos – ligados ou não ao processo. O objetivo foi formar um conceito próprio, sem influências. Vamos a eles, mais especificamente à publicação da Veja, a qual originou esse bochincho todo.

Primeiramente é preciso dizer que a Veja, por seus quarenta anos de história é uma revista que merece todo respeito. Muitas as imperfeições verificadas ao logo deste tempo, principalmente após a abertura democrática, foram corrigidas por esse ousado instrumento de expressão, colocado à disposição dos brasileiros pela Editora Abril. s demasias da dupla Collor - PC Farias são um exemplo clássico. O mensalão, os anões do Orçamento, enfim. Este colunista é um assumido admirador de Veja e a lê toda semana. Publicação esta que também cometeu erros fatais. A promoção do próprio Collor como "caçador de Marajás" é um deles. E, para ficar no nosso mundinho gaudério, lembremos da matéria que errou em apenas 999 mil dólares uma movimentação financeira do então presidente da Câmara Federal Ibsen Pinheiro (PMDB). Um equívoco, admitido depois pela revista, mas que custou ao gaúcho um hiato forçado de uma vida pública que estava em seu auge. A Veja acerta, a Veja erra, como todos, em todos os setores.

Na matéria de 13 de maio, edição 2112 da revista, o que chama a atenção é a fragilidade do exposto. Alguns relatos beiram notoriamente à fantasia. E pior, infelizmente um ar de sensacionalismo é emprestado ao trabalho. Um exemplo gritante de um trecho: a então candidata a governadora Yeda Crusius (PSDB) chega para um auxiliar de confiança, no caso, Marcelo Cavalcante e diz: “Marcelinho, Crusius (Carlos) quer pagar uma dívida antiga nossa que está apertando a gente e, se sair na mídia, não vai ser bom”. Ora, sejamos lúcidos: alguém que goza de confiança total ao ponto de compartilhar uma informação destas, precisa mesmo ser advertido dos riscos dela vazar?

O trecho acima da matéria foi narrado na entrevista dada por Magda Cunha, intitulada como viúva de Marcelo. Ela viveu quinze meses com ele. Logo após seu corpo ter sido encontrado no lago Paranoá Magda ligou para o deputado Cláudio Diaz (PSDB). Queria continuar recebendo o salário do companheiro, que era lotado no gabinete do parlamentar, ou a colocação dos três filhos – do primeiro casamento – “para compensar a perda”.

Todas as informações que Magda repassou à revista são baseadas no que o companheiro teria lhe contado. Algumas têm cheiro de bravata. Aliás, Marcelo dizia para ela que recebia R$ 9 mil do gabinete de Diaz – R$ 3 mil a mais do que de fato percebia.
Bom recordar também que num lapso de honestidade, a mesma Magda, numa entrevista a um jornal do Sul, sugeriu vender fitas que possuiria. Em seguida, se deu conta da falha e disse que a entregaria numa praça pública, de graça”. É blefe puro. Estava sim era testando a possibilidade de rifar informações. E se as tivesse de fato já teria as apresentado ao menos parcialmente.

Mas a essência deste material, elaborada por um repórter de 23 anos, mas editada por veteranos, são as conversas de Marcelo Cavalcante e Lair Ferst. Esses diálogos foram gravados por Ferst em bares, entre chopes e bolinhos de peixe. Ferst, um aventureiro manjado que viu na política um meio rápido de se recuperar financeiramente. Cavalcante, “um menino bom”, como disse Crusius um dia, mas instável. A lembrar: Cavalcante passou a morar com Magda dois dias depois de conhecê-la. Brigado com ela, rondou o Paranoá um fim de semana todo até reunir coragem para se atirar nas águas e passar dessa para outra.

Ai é que reside a grande fragilidade de tudo. Temos como origem de toda da celeuma supostas gravações de duas figuras publicamente alijadas do processo governamental e em estado etílico incerto. E ai se repete aqui uma pergunta feita em anterior artigo: quem merece mais crédito? Uma cidadã de bem, de personalidade forte para uns, arrogante para outros, mas que como chefe eleita pela maioria curou chagas crônicas de um Estado, ou duas criaturas a serviço único de suas causas? Ao estilo Feijó, Lair gravou Marcelo. Tal ato já indica com quem se está lidando.

Falando no vice-governador, os emails levados a público por ele confirmam mais uma vez o perfil de um caráter complicado. Ao constranger colegas empresários, que doaram recursos próprios à campanha, o democrata fechou mais portas, além das já trancadas. E, finalizando, é bom salientar que os recursos em pauta são privados. Não há notícia de nenhum tostão público nestas acusações. Imaginem se tivesse?

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

    ResponderExcluir
  2. Yeda e base aliada desenharam Plano B para CPI do PT

    Mais forte e mais articulada, a governadora Yeda Crusius conduziu toda a reunião do Conselho Político, segunda-feira, para discussões em torno da convocação da CPI do PT.

    . A exemplo do que fez e faz o governo Lula e o PT no caso da CPI da Petrobrás, a estratégia do Palácio Piratini é a seguinte, conforme acertado no Conselho Político:

    1) impedir a convocação da CPI do PT.

    2) Circunscrever o raio de ações da CPI do PT, caso ela emplaque.

    - Os Partidos da base aliada demonstraram para Yeda que não ocorrerão defecções, mesmo as esperadas baixas que provocariam os deputados Cassiá Carpes (PTB) e Nelson Harter (PMDB).

    ResponderExcluir
  3. Paulo Feijó vive seu dia de caça (O escândalo da Ulbra).
    A nova administração que assumiu no lugar do reitor Ruben Becker, desencavou dos arquivos mortos três explosivos documentos assinados entre a Ulbra e as empresas AFP e Votos, ambas pertencentes ao vice-governador Paulo Afonso Feijó.

    . O conjunto de documentos inclui:

    1) O contrato de prestação de serviços (consultoria e assessoria) propriamente dito, na verdade uma Carta de Mandato, de 28 de junho de 2007.

    2) Um termo de confidencialidade, pelo qual as duas partes se comprometeram a não contar a ninguém sobre o que tinha sido combinado.

    3) A rescisão do contrato assinada no dia 10 de março do ano passado, justamente no dia em que tiveram início os trabalhos da CPI do Detran.

    . O vice-governador Paulo Afonso Feijó assinou por AFP e por Votos. O contrato foi encerrado abruptamente, mas o vice não deixou de embolsar R$ 180 mil pelos serviços de consultoria e assessoria prestados até ali. Caso tivesse obtido êxito na empreitada, Paulo Afonso Feijó teria contado seus novos proventos em milhões e não em milhares de reais. É que no contrato a retribuição financeira de AFP e Votos previa uma parcela fixa mensal e mais uma percentagem sobre os resultados.

    ResponderExcluir

Leg