terça-feira, 17 de março de 2009

Poesia, profissionalismo e sutilezas

Marenco interpretou a vencedora da campeira, cantada em espanhol (foto:Edu Rickes)
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“Ele buscava, sangrando, coisas suaves pra dizer... mas tinha versos povoados de morte e de renascer. Ela, tão bela, assistia a alma dele incendiar... virar bem menos que cinzas pra depois ressuscitar”. Este é o primeiro verso de O Poeta e a Estrela, a grande vencedora do 25º Reponte. A samba, que defendeu Santa Maria e Jaguari, com composição de Carlos Omar Vilella e musicada por Nilton Ferreira e Artur Bonilha, arrebatou um total de quatro troféus – melhor livre, poesia (livre), intérprete e instrumentista.

Passavam das 2h desta fria madrugada de segunda-feira quando a Rádio Tapense reproduzia as vozes dos apresentadores Vera Armando e Paulo Mendonça, que anunciavam os vencedores do 25º Reponte da Canção. Era a conclusão de uma eficaz transmissão de três dias, feita pelo diretor da emissora, Enon Cardoso, por este repórter e pelo pessoal de apoio que ficou na base. Ali também se soube que a linha campeira do 25º Reponte foi ganha por Al Sur Tu Purajhei, um chamamé de Jaguarão e Pelotas, interpretado pelo consagrado Luis Marenco, com música de Aluísio Rockembach e letra de Martin Gonçalves.

Em relação aos segundos colocados, surpresa. Na livre, deu Cunumi, um cansativo chamamé que depois dos primeiros vinte segundos de acordes provoca bocejos. Na campeira também, se esperava no mínimo uma inversão, já que a bem construída A Pedra da Boleadeira (Mauro Moraes e Gujo Teixeira) arrasou. Tanto que levou mais dois troféus além do segundo lugar: melhor resgate histórico e melhor poesia de sua linha.

Mas a maior injustiça cometida mesmo foi a escolha da chamarra Na Sombra do Meu Cavalo como a mais popular (esta, aliás, é a sexta vez consecutiva que seu autor local Lauri Lopes vence esse troféu). Se a escolha da mais popular seguisse o critério lógico da capacidade da obra de levantar o público, não restaria dúvida alguma que Junta Galponeira, uma milonga alta astral composta por Rodrigo Spiering, Cristiano Vieira e com arranjo de Leonardo Pinho e Cícero Camargo, sairia com o troféu. Mas para quem já deduz que o bairrismo pesou, uma advertência: Junta Gaponeira também defendia São Lourenço do Sul.

Resultados à parte (eles sempre são discutíveis), a lista de homenageados pelo 25º Reponte é extensa. A começar pelo público presente no Camping Municipal, brindado com um grande evento no fim de semana. Grande porque as atrações foram muitas, a estrutura foi formidável e a organização impecável. Se houvesse a necessidade de limitar a um termo para definir o festival esse seria profissionalismo. O batalhão de servidores públicos e voluntários mostra preparo e erra muito pouco. E quando isso ocorre, o sincronismo entra em jogo e as falhas são imediatamente corrigidas. Enfim, a coisa flui.

É de se frisar também outra virtude do Reponte. Com um aporte vitaminado de recursos – o que garante uma publicidade barulhenta – é comum gente com fome de holofote se auto guindar ao patamar de estrela da festa. Tais exposições dos “donos da festa” são sempre cansativas. Talvez prevendo isso, os organizadores do Reponte são sutis até demais. A começar pelo prefeito Zé Nunes, um homem de manias simples, tímido até, mas que tem dado um banho de gestão municipal, talvez estreando uma nova era de conceitos administrativos regionais. E a base disso está na descentralização. E o Reponte é um exemplo bem acabado disso. Nunes acompanha tudo, mas aparece pouco.

O mesmo se pode dizer de Zelmute Oliveira. É deste secretário municipal de Turismo, a tarefa de ir atrás dos apoios, captar recursos, organizar o pessoal e gerir o orçamento. É o serviço pesado. Como é conhecidamente candidato a uma vaga legislativa estadual em 2010, seria natural para os padrões nativos o petista que também preside o consórcio de turismo da região, aproveitar uma oportunidade de ouro como essa para fazer aquilo que políticos mais amam: se promover. Mas não. Talvez por convicção íntima de que o reconhecimento não pode ser forçado, Zelmute também teve uma postura irretocavelmente discreta, durante esta respeitada ação publica, que celebra o Rio Grande e que orgulha a Costa Doce.

Reconhecimento que começa a vir de longe também. Esta semana, Zelmute Oliveira embarca para Cartagena das Índias, Colômbia, onde será conferencista de um encontro. Vai falar sobre aquilo que mais conhece: desenvolvimento sustentável, gestão regional e turismo.

Um comentário:

  1. Parabéns, Alex, pela excelente reportagem sobre o Reponte. Tenho acompanhado teu blog com assiduidade e gostado cada vez mais do que escreves. Além de opinião, tens estilo para colocá-las, o que torna muito atraente a leitura dos teus textos. E, o que vem me agradando sobremaneira, é a diversidade de assuntos que tens abordado. Parabéns, Parabéns!

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