segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Mais político

Em entrevista veiculada no jornal Zero Hora deste domingo, a governadora Yeda Crusius disse que entre as baixas do seu governo, a que mais sentiu foi a de Delson Martini. Disse também se sentir mais do que aliviada depois do arquivamento do inquérito da polêmica compra da casa.
A governadora afirmou sua disposição de dar um perfil mais político à sua equipe. Para isso, deverá convocar políticos sem mandato e disse não abrir da contribuição da experiência de quem já comandou prefeituras – caso de José Alberto Wenzel, ex de Santa Cruz do Sul, e João Carlos Machado, ex de Camaquã. Wenzel, que é o do PSDB, responde atualmente pela Casa Civil. O pepista João Carlos chefia a Agricultura. Com isso, Yeda emite sinais claros do que pretende para 2010.

Um comentário:

  1. “2008, o ano que enfim terminou”Nada mais parece abalar Yeda Crusius desde que o Ministério Público anunciou, no dia 5 de dezembro, o arquivamento da investigação que apurou eventuais irregularidades na compra de sua casa, localizada na Vila Jardim, em Porto Alegre. A governadora diz ter sido um bálsamo ouvir do procurador-geral de Justiça, Mauro Renner, que era necessário estabelecer a respeitabilidade das pessoas investigadas – ela própria, o marido, Carlos Crusius, o ex-secretário-geral de governo Delson Martini e seu pai, Delacy Martini.

    Na sexta-feira, dois dias depois de anunciar a saída de Aod Cunha, seu principal secretário, e prometer novas mudanças na equipe, Yeda aparentava bom humor. Não lamentou a perda de Aod e procurou contemporizar as ameaças de demissão que haviam sido feitas pela secretária da Educação, Mariza Abreu, um dia antes.

    A seguir, a síntese da entrevista de uma hora que Yeda concedeu a ZH na manhã de sexta-feira, em seu gabinete no Palácio Piratini:

    Zero Hora – A senhora não teme que a frequente troca de secretários seja interpretada como um sinal de fragilidade do seu governo?

    Yeda Crusius – Acho que o povo já tem uma compreensão do governo porque ele viu, como São Tomé. Pagou-se o 13º e se chegou ao déficit zero. Para isso, enfrentamos todas as turbulências, que não foram pequenas. Seis dos secretários que troquei foram sem desejar. Seis dos mais próximos secretários. Precisou trocar, troquei. O que fica é a troca de secretários? Não, o que tem de ficar é que tem um objetivo. O objetivo é o desenvolvimento sustentável do Estado. Por isso, quero trabalhar este ano a imagem do governo. Também estarei mais disponível para conversar com a população. A gestão começa a andar mais rotineiramente.

    ZH – De todas as perdas ocorridas no primeiro escalão, qual foi a que a senhora mais sentiu?

    Yeda – Sei que se eu disser o nome vai dar ciúme. É a regra do jogo na política, né? Então claramente foi a perda do Delson Martini (em 2008, no auge da crise política provocada pela CPI do Detran).

    ZH – Quem são os seis secretários que a senhora disse que não gostaria que tivessem saído?

    Yeda – Foram aqueles que eu tive de fazer a demissão. Cézar Busatto...Eu teria de ter a lista na frente. Mas a demissão do Delson Martini foi a que eu mais senti, pela injustiça que foi praticada com a família dele.

    ZH – A senhora pensa em trazê-lo de volta ao governo?

    Yeda – Não posso nem pedir isso depois do que fizeram com o Delson e a família dele. O bálsamo foi dado pela frase do procurador-geral de Justiça, Mauro Renner, quando disse (ao propor o arquivamento da investigação da compra da cada de Yeda): “É necessário estabelecer a respeitabilidade que essas pessoas merecem”. Ele se referia ao pai do Delson (Delacy Martini), muito querido meu, ao Delson, ao Carlos Crusius e a mim. Aquilo para mim foi um bálsamo. As pessoas estão perguntando se estou com marketing de imagem, mas não. Abriu-se uma nuvem negra que havia sobre o governo e sobre essas pessoas que não mereciam estar passando por isso, como prática de uma oposição que só sabe destruir, que não se importa com o assassinato moral. Através da governadora, o Rio Grande do Sul estava em manchetes nacionais muito pobres quando tanto coisa rica estava se conseguindo fazer. Até aquele momento estava vencendo o lado escuro da força. Então saíram as nuvens que tapavam a luz e se pôde ver com clareza que a luta valia a pena pelo resultado que podia mostrar. 2008, o ano que enfim terminou.

    ZH – A senhora se incomoda quando um secretário adquire muita visibilidade, como foi o caso de Aod Cunha?

    Yeda – Faço questão de viabilizar o bom trabalho dos secretários. Quanto mais eles aparecerem melhor para mim, para o governo e para o Rio Grande do Sul. Vocês podem notar que cada vez que o governo tem um dado relevante a governadora dá suporte para aquele dado e sai, deixando os secretários explicarem os detalhes. Me sinto feliz e me orgulho quando meus secretários brilham.

    ZH – Um dos fatos que mais incomodou a secretária da Educação, Mariza Abreu, foi a derrubada pela Assembleia do corte do ponto dos professores grevistas. A senhora vetou esse projeto e o veto será apreciado em fevereiro pelo Legislativo. Qual o comportamento que a senhora espera das bancadas aliadas nessa votação, já que na primeira vez em que o assunto foi a plenário a base se dividiu?

    Yeda – Honramos as decisões democráticas dos governos anteriores, como a Lei Britto e os precatórios. E quisemos fazer isso com as greves anteriores, mas reafirmando que cada greve implica corte de ponto. No final do ano passado, houve esse perdão de ponto. A base ainda não tinha percebido o acerto e a direção daquela locomotiva. A conscientização é o nosso dever junto à base. Acho que o comportamento da secretária foi no sentido de dizer isso: os instrumentos para colocar em discussão o que realmente importa, que é a qualidade da educação, incluindo a mudança da carreira de magistério, não podem ser truncados com a perda de algum instrumento, como é esse decreto que a gente assinou e vai cumprir.

    ZH – Quer dizer que mesmo que a Assembleia derrube o veto a senhora continuará cortando o ponto dos professores em greve?

    Yeda – A decisão de fazer ou não greve depende dos professores. Eu não interfiro nisso. Apenas como governadora eu vou cortar o ponto deles ou de qualquer outro servidor público que venha a fazer greve.

    ZH – Os secretários temem que o excesso de marketing do déficit zero passe ao funcionalismo a impressão de que o governo está saneado. Como a senhora fará para mostrar que essa conquista não significa licença para conceder reajustes salariais?

    Yeda – Quando propusemos o pagamento da Lei Britto (reajustes aprovados no governo de Antônio Britto e suspensos logo em seguida) era para beneficiar o magistério, a segurança pública. Eles tiveram de 19% a 33% de aumento. Honramos a decisão democrática da Assembleia (que aprovou o reajuste em 1995). Então esses aumentos já são concretos. O orçamento de 2009 que aprovamos na Assembleia é o que nós vamos executar. Vamos pagar a Lei Britto e investir R$1,250 bilhão, 7% da receita líquida. De onde vai se tirar dinheiro para dar um aumento maior do que os 19% ou 33% da Lei Britto? Vamos tirar da saúde? Da própria educação? Dos investimentos em estradas? Se tiver de dar 20% de aumento para o magistério eu volto para trás, eu vou ter déficit. A lei não me permite isso.

    ZH – Com a reestruturação do governo, estão criadas as condições para a senhora se liberar mais das obrigações do dia-a-dia e poder viajar pelo Estado?

    Yeda – O que está criado é a marca deixada pelo governo em dois anos, de firmeza, de voltar a investir através de um forte ajuste. Paramos de gastar em custeio para gastar na finalidade de cada secretaria. Esse é o modelo de exportação que podemos ter por meio do Aod Cunha para outros Estados. A marca deste governo é pagar contas em dia. Estamos preparados para intensificar o que conquistamos por mudanças estruturais. Quero estar nos locais falando com a população, com a segurança de que a locomotiva está no caminho.

    ZH – Que palavra a senhora usaria para definir a nova fase do seu governo?

    Yeda – A da colheita.

    luiz.araujo@zerohora.com.br
    rosane.oliveira@zerohora.com.br

    LUIZ ANTÔNIO ARAUJO E ROSANE DE OLIVEIRA

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