sábado, 1 de dezembro de 2012

Minha recordação do Olímpico: seria ele um fantasma?

Estão se fechando as cortinas do nosso bom e velho palco de jogos. Algum treino depois, um show musical, mas futebol oficial nunca mais. Mas não é somente um ciclo gaudério que se encerra. O Estádio Olímpico Monumental é símbolo de um futebol brasileiro campeão de tudo. O Olímpico é do mundo, é do esporte.
Nesta semana em que gremistas de todos os cantos falaram à imprensa de suas passagens pelo estádio azul, neste ritual de pré-sepultamento do nosso campo, um ar nostálgico perambula entre as almas tricolores. É só o começo. Fico pensando como será o dia do golpe final, quando as pencas de dinamite, instaladas nos calcanhares do Monumental, irão tombá-lo para a eternidade. Isso vai doer.

Não consigo lembrar do número de espetáculos com final feliz que assisti como torcedor, em algum ponto das arquibancadas ou das cadeiras do nosso campo. Verdade que também não foram poucas as frustrações. Como profissional de imprensa também acompanhei jogos ali. Dentro do campo, entre a pista atlética e uma das goleiras, assisti Ronaldinho infernizar os vermelhos e levantar a taça do Gauchão de 1999. Foi aquele Grenal do irresponsável lençol em Dunga. O mesmo R10 que se tornaria logo depois persona non grata de dirigentes e torcedores. Mas história não se deleta assim no “más”. Registre-se: um dos maiores craques do mundo foi fecundado e parido no nosso Olímpico.

A recordação mais lúcida que tenho mesmo do nosso estádio, porém, não tem necessariamente relação com algum título inédito, um gol salvador ou uma vitória estupenda nossa. Aliás, é bem o oposto. Retrocedo aos meus 7 anos, na primeira vez que pisei no Monumental. Naquele dia um Olímpico vazio, sepulcral, contrastava com uma atmosfera de êxtase que Porto Alegre respirava – ou pelo menos boa parte dela. Não tinha esquina da Capital naquele domingo que não se avistassem bandeiras, faixas e pôsteres do rival. A data? 23 de dezembro de 1979, dia em que o colorado conquistaria no final do dia seu tri nacional.
Entre meu padrinho e meu pai - faceiros em proporcionar a alegria do guri - subi na parte superior externa do estádio. Tenho muito, mas muito nítida mesmo a imagem de um funcionário, que não sei se era zelador ou segurança, ou até um dirigente conversando com meus parentes. Apoiado com os braços no para peito do corredor, entre uma baforada e outra de cigarro, o homem magro, já veterano, visivelmente magoado, concluiu a conversa: “(...) mas um dia seremos nós”.

Aquele Grêmio de 1979 já era uma afirmação nacional, mas com títulos regionais apenas. Dois anos depois nossa história começou a mudar: primeiro ganharíamos o nosso primeiro título nacional pelos pés (e peito) de Baltazar. Em 1983, nos tornaríamos Campeões da Libertadores e na sequência, no final do mesmo ano, seríamos os melhores do Mundo com o impetuoso Renato. 

Engraçado que em todas as vezes que meu time levantou um caneco eu me lembrei deste senhor e do que ele falou no Olímpico desértico daquele modorrento apagar das luzes de 79. Confesso que até hoje chego a pensar que talvez ele fosse um fantasma tricolor, que decidiu penar por aquelas lajes. Vai saber! Se for, ele deve ter continuado por lá todos estes anos e neste domingo estará postado em algum canto do nosso Sagrado Estádio, vibrando nervoso no nosso maior clássico. Mas agora, sem dúvida, mais convicto de que tudo podemos. Seja na Azenha, seja no Humaitá, seja em qualquer lugar do mundo, sempre. 

Alex Soares         

   

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