sexta-feira, 2 de julho de 2010

O preço da arrogância

Matt Dunham/AP
Perdemos. De novo. Da última vez que não ganhamos a Copa, o triunfo teve um intervalo de oito anos. Se a erguermos em 2014, será de doze. Por outro lado, já passamos 24 sem levar a Taça. O fato é que nos acostumamos mal e desde 1994 se fortaleceu nas nossas novas gerações a imagem de invencibilidade da nossa Seleção.

No futebol somos sim os caras. É aqui, nos campinhos imaginários das vilas, com goleiras feitas de tijolos ou chinelos de dedo, é que nascem de pés nus as estrelas que depois decidem os badalados campeonatos europeus. Tantas constelações criadas geraram à luz nada menos que cinco títulos mundiais profissionais. Somos os maiores vencedores de Copas. E, com a Itália fora também, continuaremos assim pelo menos até o próximo Mundial.

“A arrogância positiva” da seleção Brasileira, destacada pelo elegante técnico holandês Bert van Marwijk, antes do confronto desta sexta-feira, faz todo sentido. E isso vale não só para os times de Dunga, de Parreira, de Felipão. Vale para nós também, que à cada jogo, ficamos na expectativa de um saco de gols canarinhos.

Mas assim como na vida, a arrogância é um péssimo ingrediente para a postura no esporte. Ao exorcizar qualquer possibilidade de derrota, a invencibilidade imaginária impede também a convivência com a adversidade. E essa dificuldade de adaptação foi fatal para o fracasso do selecionado de Dunga, hoje à tarde, no Estádio Nelson Mandela Bay, em Port Elizabeth.

Mas não são apenas os técnicos e craques os culpados. Eles são apenas o produto de uma campanha coletiva de auto-suficiência, a qual a mídia possui grande parcela de contribuição. Isso reflete sim, diretamente nos ambientes de treinamento. E por mais que Dunga tenha tentado isolar a badalação dos seus comandados, isso sempre contamina. Isso é mais forte que tudo.

Eleger o meia Felipe Melo (um gol contra e expulso) como o algoz da vinda prematura para casa do Brasil é ser irresponsavelmente simplista. O Brasil começou a se desclassificar nas quartas de final na África antes mesmo de entrar em cancha. Achava ser infinitamente melhor que a Holanda. E quando sofreu o primeiro revés, com um gol desengonçado, se apavorou. O Brasil sequer estava preparado para sofrer gols, exceto se já tivesse feito vários.

E também não cabe culpar as sucessivas delegações brasileiras por essa postura de desequilíbrio verificada na adversidade. O preço de ser a mais vencedora das seleções é um fardo pesado a carregar por todas as Seleções verde-amarelas. Elas sempre serão cobradas por todo o Mundo.

E na África, ainda não foi nada. Na Copa que vem, o Brasil joga em casa. A responsabilidade será infinitamente maior.

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