Histórico legitimado

O anúncio de uma emenda parlamentar de R$ 1milhão divulgado em panfleto publicitário do deputado Mendes Ribeiro Filho (PMDB), há duas semanas, gerou inquietação entre os governistas locais e comemoração nas trincheiras adversárias. Ao informar que o dinheiro não chegou ao caixa do hospital Nossa Senhora Aparecida – destino anunciado pelo folder – o presidente da Funbeca, Antônio Omar Machado apareceu em entrevista de página no Jornal Gazeta Regional. Mas não ficou sozinho. Ernesto Molon, prefeito peemedebista de Camaquã também não poupou críticas às publicidades em torno da emendas dos deputados – entre as quais se inclui o seu parceiro Mendes Ribeiro.

Tanto as reações de Antônio Omar quanto as de Molon podem ser lidas de duas formas: para justificar a quebra de expectativa verificadas nas duas gestões – hospital e prefeitura - ou pela pura falta de jogo de cintura, de preparo para lidar com determinados temas. Ou as duas. No trio de alternativas prosperou a deselegância.

Elegância, aliás, que teve o parlamentar na manhã desta quarta-feira, ao dar entrevista à Rádio Camaqüense. Por ter sido um dos maiores colaboradores da sobrevida do HNSA até aqui, teria autoridade para dar o troco e comentar no ar, por exemplo, que o problema do hospital não era de “gestão” - como a atual diretoria fez crer quando assumiu, numa ofensiva explícita à honra dos antecessores. Poderia, mas não disse. Assim como também poderia ter sido enfaticamente maldoso (mas realista) com relação aos valores federais perdidos ultimamente por conta de barbeiragens primárias locais envolvendo tramitação de documentos.

São dois tipos de homens públicos eleitos pelo voto que conseguem consolidar-se junto ao um determinado público. Os que pagam e os que trabalham. As duas décadas de constante peleja da causa regional resultaram num insólito cenário: é muito difícil encontrar nos municípios da região uma benfeitoria de vulto que não tenha a mão deste parlamentar.

Isso e as conseqüentes aprovações eleitorais da paróquia deram a Mendes Ribeiro o confortável privilégio de não se envolver em certos litígios verbais localizados e circunstanciais. Tal status, entretanto, está longe de ser confundido com soberba. É verdade que é para poucos, mas é que por tudo que já foi feito (e registrado) certas atitudes merecem apenas um silencioso movimento negativo de cabeça.