terça-feira, 7 de julho de 2009

Que protestem, mas sozinhos

Não pode passar em branco o episódio ocorrido na última sexta-feira em Camaquã, protagonizado por professores ligados ao sindicato que reúne a categoria pública estadual. Não pode ser considerado banal sob o risco de novos fatos como este ocorrerem.

O que este blogueiro testemunhou em Camaquã extrapola todos os limites das práticas políticas recomendadas, seja para defender, seja para pressionar. A utilização premeditada de crianças e adolescentes em atos que tenham o objetivo de angariar benefícios a uma classe de adultos já é, por si, condenável. Mas embutidos neste ato estão outros graves erros, que repito, precisam ser apurados em nome da ética educacional.

O mais grave deles, no meu ver, é a tentativa de viciar ideologicamente cabeças que recém estão formando conceitos sobre o que os rodeia. Tirar a liberdade de pensar e induzir à matiz política estudantes de 11, 12, 15 anos é atrapalhar o ciclo natural de um cidadão. E esse ciclo evolutivo deve ser garantido a todos, sempre. O que aconteceu na sexta-feira e tem sido registrado sistematicamente em outras situações, foi um aliciamento coletivo, feito por pessoas que possuem o domínio da situação.

Numa sala de aula a referência é um professor. Uma opinião ou um gesto seu possui implicações que em muitos casos se refletem por toda a vida de um aluno. Se prevalecer desta condição favorável de poder para engrossar um ato corporativista – partidário é condenável sob todos os ângulos que se queira olhar.

Outra questão pertinente é o fato do estímulo ao desrespeito. Não vamos nem falar de desrespeitar uma autoridade, já que isso em alguns núcleos ideológicos é praxe. Da hora que chegou até se despedir Yeda Crusius foi insistentemente desrespeitada pelos que foram lá para isso – a maior parte professores e também estudantes com idades dos netos da convidada.

Mesmo que não houvesse aliciamento (houve), o fato de não repreender alunos que atrapalhavam uma cidadã, também professora, de falar, se constitui em equívoco talvez irreversível. Onde foi parar a lição escolar básica de escutar enquanto o interlocutor fala? No caso da oradora ser uma governadora de estado a falta de postura torna-se ainda mais agravante.

Os professores e seus sindicatos têm todo o direito de não aceitar, de criticar e até mesmo de ofender os governantes que acham ferirem seus interesses. E se excessos forem cometidos, vítimas podem ser reparadas na Justiça. Agora, o que opositores – e neste caso educadores - não devem é colocar menores de idade, em formação intelectual e física, entre eles e seus alvos. Aliás, essa é um prática comum em alguns movimentos – vide o MST.

Os alunos, como está sendo informado pelos sindicalistas, não saíram depois do horário de aula. Pouco depois das 11h, ou seja, uma hora antes de irem para casa, filas de estudantes deixavam a Escola Cônego Walter Hanquet. E isso está registrado. É imperativo que se reitere: a direção da escola estadual e as demais que tiveram alunos no protesto devem uma explicação à sociedade.

Mas devem fundamentalmente satisfação aos pais, que imaginavam os filhos em sala de aula naquela hora, não se arriscando em uma rodovia movimentada (não faltam relatos de bruscas freadas), para empunhar bandeiras, colar adesivos e gritar contra alguém que o professor diz não gostar e a favor de algo que nem sabem direito do que se trata.

Leg