sábado, 20 de dezembro de 2008

Liberdade...de que mesmo cara pálida?


Impossível, ao folhar as primeiras páginas de Deu no New York Times (Objetiva, 416 págs), livro do repórter americano Larry Rohter, fazer uma reflexão sobre a imprensa brasileira e se reiterar sobre a certeza do atraso. Rother é aquele correspondente do jornal mais famoso do mundo, o qual a realeza petista lutou por sua expulsão do Brasil, em 2004, após uma matéria que citava Lula como bom de copo. Mesmo conhecedor dos padrões brasileiros de divulgação (ele morou em dois períodos aqui), Rother, pertencente a uma imprensa realmente livre, jamais imaginou que um texto absolutamente banal dentro da rotina democrática americana, fosse causar tanto reboliço aqui. Mas causou. E até foi bom para Rother. Não fosse a polêmica, talvez o livro não tivesse sido lançado. Mas o fato é que o episódio expôs mais do que um presidente simpático ao álcool. Também escancarou o perverso lado do conceito vigente entre os figurões brasileiros – de que a notícia só é notícia quando ela é boa. Ao contrário, é perseguição.

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As comparações ressurgem também com a morte de Mark Felt, na quinta-feira desta semana. Entre 1972 e 1974, Felt se transformou na principal fonte dos repórteres Carl Berntein e Bob Woodward, em um dos trabalhos jornalísticos mais famosos da história: o caso Watergate. Imaginem, no início da década de 70, enquanto a imprensa norte-americana ajudava a derrubar um presidente de comportamento suspeito, no Brasil, se vivia o auge do AI-5. Se nos EUA esse tempo possa parecer longínquo, a ditadura intimidadora daqui ainda está muito viva em algumas redações. Mais do que isso: está no DNA da turma mandante. E vamos ser sinceros: do presidente eleito ao vereadorzinho que se torna celebridade da noite para o dia, existe um pouco dos generais que nos atrasaram.

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Acompanhando as coberturas das imprensas de lá e daqui, se percebe uma diferença básica de visões: o padrão americano recomenda que a partir do momento em que o cidadão passe a ser remunerado pelo Erário, ele deixa de gozar de privacidade. Talvez seja um exagero fazer com que alguns aspectos pessoais sejam de conhecimento público, mas que ajuda os agentes político-públicos a terem uma vida mais regrada, ajuda. É o típico caso de os fins justificarem os meios. Aqui, os representantes eleitos podem ter amantes a torto e a direito, beberem, “fumarem”, cheirarem a vontade e até desviarem o que não é seu. Não dá nada. A lei respalda.

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Particularmente já respondi e ainda respondo a processos por “danos morais”. E não foram poucos. E todos, posso garantir, absurdos. Um exemplo é o da ação ingressada pelo assassino do comerciante Samir Brum. Samir é aquele rapaz de 23 anos, que estava trabalhando no mercado da família, no Bairro Santa Marta, numa tarde de sábado. Na época acompanhei o caso com atenção permanente e diante de todos os indícios levantados pela polícia – inclusive a confissão do suspeito - noticiei a autoria do crime. Foi então, que na porta do xadrez, após ser preso por outro crime, o repugnante Zezinho, orientado por advogados não menos nauseantes, me ameaçou: “vou te meter um processo”. Não deu outra. Foram dois anos de idas e vindas a audiências. Ao cabo, olhem a ironia: comemorei a absolvição, dada pelo Tribunal de Justiça, num processo que eu era réu do assassino de um trabalhador. Quem mesmo foi danificado moralmente?

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Fazer imprensa aqui não é fácil. Em cidades pequenas é mais difícil ainda. Ao longo do tempo, ou tu te torna queridinho ou se constitui num demônio para a parcela que adora usar o tapete como cobertor de porcarias. Menos mal que essa fatia é pequena e o respaldo da maioria acaba sendo um fator estimulante.
Existe muito a se dizer sobre isso, mas encerro este artigo com um pedido de reflexão sobre o papel da imprensa e sua liberdade de araque. Adiante: Alguém viu alguma grande emissora de TV, um abrangente jornal ou uma notável rádio falar sobre o crime encomendado por Nenê Constantino, em outubro de 2001, numa cidade satélite de Brasília? Eu pelo menos não. Soube deste processo pela revista Veja (sempre a Veja!) da semana passada. Bom, mas isso é compreensível, afinal, Constantino é nada mais nada menos do que o dono da Gol Linhas Aéreas. Pela matéria, bem elaborada, se sabe que a polícia do Distrito Federal, depois de muita investigação, indiciou Constantino como o homem que mandou matar Márcio Britto, que havia liderado uma invasão a um terreno seu. O fato acabou sendo confirmado inclusive pelo ex-genro, à época, homem de confiança do empresário. O caso ficou engavetado durante o governo Joaquim Roriz, que embolsou, no mínimo R$ 2,2 milhões por isso. Roriz perdeu um mandato de senador pela picaretagem.

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Mas por causa deste e de outros trabalhos a revista da Abril é mal vista. Os esquerdóides, por exemplo, adoram classificá-la como fascista, tendenciosa e o diabo a quatro. Mas aqui é assim mesmo. Quem gosta de mostrar a verdade não presta. Mas teimosia está longe de ser um defeito. Áh, e a propósito, o caso do dono da Gol é tudo suposição o.k? Vá que num vôo desses eles me descubram e me atirem lá de cima. É bom não arriscar!

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