segunda-feira, 17 de junho de 2013

Quem diria, mas somos o anticlímax da Copa

Era para estarmos faceiros, vibrantes e orgulhosos por o país estar sediando a Copa de 14 e a Olímpiada de 16, dois dos maiores eventos do planeta. Não estamos. A propaganda é forte, com agências e veículos de mídia se esforçando para a aldeia entrar no clima. Mas nada. Já estamos na Copa das Confederações e falta um ano para o Mundial às ganhas. E nada!

Sintoma disso é a resignação quase que total com essa insanidade que temos visto nas capitais, patrocinada por rebeldes aparentemente sem causa alguma. Vandalismo que se repetiu no final de semana, antes dos jogos da Copa das Confederações. Mesmo com cenas fortes não tenho visto a opinião pública defender veementemente os manifestantes, mas também não a vejo condenar maciçamente. Não há indignação com os indignados.

Sábado, a presidente Dilma Rousseff foi vaiada antes do jogo de abertura da Copa das Confederações, em Brasília. Tudo pareceu natural. Não foi. A sonora vaia a Dilma e ao presidente da Fifa, Joseph Blatter, podem ter zilhões de interpretações, mas não são  surpreendentes. Se a assessoria do Planalto tivesse um pouquinho mais de contato com as ruas, não deixaria Dilma ir ao Mané Garrincha. O pior é que não dá nem para culpar a oposição. Que diga a ministra Maria do Rosário.

O que está acontecendo, afinal? Intuitivamente, olhando tudo em volta, o antes e o agora, formei algumas convicções sobre este anticlímax. Uma delas: nós nativos não nos sentimos parte desta festa até aqui – e acho que nem vamos nos sentir até 2014. Estranho, pois é tudo tão próximo e ao mesmo tempo tão distante. Vamos e viemos: é ruim brasileiro resistir à felicidade e alegria, hein?  Será que enfim chegamos a um estágio evolutivo, o qual nos possibilita uma melhor visão de tudo?

Fascinantes templos são esses estádios erguidos para Copa. São também bilionários, assim como tudo que envolve os investimentos da Copa. E a dor popular talvez seja mesmo essa chuva de dinheiro que cai sem parar para a realização de um evento de um mês. É agressiva, é desproporcional. É que são tantas as desgraças diárias neste Brasil velho de meu Deus causadas pela carência de dinheiro, que não tem como não se desapontar. Enquanto nas estradas esburacadas e mal sinalizadas morre uma multidão diária, assassinos são soltos nas cidades por falta de vagas nas cadeias. Isso só para não cair na vala comum de citar a vergonha da saúde pública, cujo caos leva milhares a óbito todo mês. Vejam: não reivindicamos luxo. Estamos aqui falando apenas do direito sagrado à manutenção da vida, a qual é obrigação do Estado garantir.


Os promotores da Copa e seus patrocinadores têm um ano para torná-la digerível aos nativos da sua sede. E não nos iludamos com as imagens da parcela ínfima da população que irá aos jogos e, eufórica, dará entrevistas ao final das partidas para as televisões. Falo dos brasileiros de todas as quebradas, do interior, das periferias e também das capitais. Falo do Brasil que até agora não entendeu muito bem as vantagens de bancar (bem bancada) uma Copa do Mundo. E também de bancar um modelo político-administrativo, mantido também até aqui por uma poderosa máquina de propaganda, mas que começa a dar reais e visíveis sinais de fadiga.   

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Por Alex Soares

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