segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

O nosso 11 de Setembro


Incredulidade num primeiro momento, revolta no segundo. No final, um vazio dolorido que teimou em arder no peito por todo o domingo de sol e se estendeu pela segunda-feira de despedidas. Os brasileiros, especialmente nós gaúchos sentimos um pouco de tudo isso desde a manhã ensolarada de ontem - um domingo de céu limpo, sol soberano, o melhor do verão talvez. Quis o destino, no entanto, que o 27 de janeiro fosse diferente. E foi: se tornou a nossa data mais triste. Daqui a um, dez, vinte anos, vamos lembrar deste dia e de onde estávamos, com quem estávamos. 27 de janeiro é o nosso 11 de setembro.

O infortúnio macabro de Santa Maria é forte, é próximo. Foi em Santa Maria, mas poderia ter sido na esquina de Camaquã, de Rio Grande, de São Sepé. As 120 chamadas não atendidas feitas do telefone de um pai para o aparelho de uma das duzentas e tantas vítimas da Boate Kiss nos remetem as nossas próprias reações de quando nossos filhos se atrasam ou “somem” na noite.

E cada um de nós, à nossa maneira, busca entender o significado de tudo isso. Ficamos imaginando como e o quanto cada um destes coitadinhos desses guris e gurias tentou resistir, se debatendo sem sucesso contra o fim.  Meu Deus, eles saíram de casa com a única pretensão de rir, de encontrar com seus amigos, namorados, namoradas, pretendentes ou pretendidos. Mas a noite de sábado não pôde ser contada depois, no bate papo da internet no domingo, nos torpedos de celular ou no intervalo das aulas de segunda-feira.

Buscamos também explicações, um sentido para tudo isso. Não há. O que há sim é a certeza que a desgraça poderia ter sido evitada se apenas um dos componentes da trágica sequencia tivesse não existido: uma segunda porta de saída talvez, ou a primitiva besteira de mexer com fogo num local fechado e inflamável.

Nosso luto permanecerá por algum tempo. Para muitos, por toda a vida. Não é fácil assimilar assim a perda de duas centenas e meia de filhos, de sobrinhos, de irmãos. Dói ver a carinha deles nas fotos – como as deste texto que mostra Ângelo Aita, que cursava Veterinária ou de Daniela Betega, que seria agrônoma - carregando no semblante seus sonhos, suas ilusões, suas convicções de presente e seus ideais de futuro. Exatamente como são as faces inocentemente doces dos nossos piás e das nossas gurias que tanto amamos.

2 comentários:

  1. prezado ALex, incluo nesse comentário, minha opinião já publicada por mim em outras redes sociais, se assim vc permitir:
    Como estou me sentindo... ? Enjoada !!! Em vários sentidos : enjoada(Mas enojada mesmo, aquele enjôo no estômago) por assistir o dia inteiro notícias tristes de uma tragédia sem fim, de tristeza imensurável de amigos, familiares, impossível não se emocionar, não embaçar os olhos, não ficar alheio ; enjoada pela revolta que sinto de autoridades que deviam enxergar o óbvio e que parece que só agora depois da tragédia anunciada(anunciada sim, por que eu que não dou diplomada em engenharia e nem sou de nenhuma fiscalização de obras entendo que é inadmissível um local enorme ter apenas uma porta !!!!!!!!!!!!!); e enjoada mais ainda por ver publicações idiotas, mesquinhas, cruéis, de ironia e piada sobre essa tragédia de Santa Maria ... Essas pessoas não devem ter famílias, aliás, nem devem ser pessoas ..Enfim, acabei de tomar um sal de frutas, pode ser que resolva o enjôo no estômago, porque o enjôo que sinto no peito... Esse vai levar um tempo para aliviar...

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  2. É isso Silvana, imagino como te sentes, pois também reagi da mesma forma.

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